segunda-feira, 15 de outubro de 2007

13 - De Coihaique a Puerto Montt


Cheguei em Coihaique ao cair da noite e fui em busca de uma hospedaje. Encontrei dois mochileiros israelenses na rua e fui com eles até uma. Depois de um pouco de negociação conseguimos até um desconto no aluguel do quarto. De fato os israelenses são ótimos para indicar aonde dormir com pouco dinheiro.

Tanto isso é verdade que a hospedaje estava lotada de israelenses. Era um choque para mim, depois de tanto tempo viajando sozinho, encontrar um grupo de mais ou menos vinte mochileiros.

Passei uma noite muito agradável, com direito a banho quente e bastante conversa.

O dia seguinte estava reservado para descanso e passei o tempo explorando a cidade, comendo e conversando com os israelenses. Coihaique é uma cidade bastante grande, com 40.000 habitantes, e é a capital da IX região do Chile. Foi a minha primeira cidade de tamanho razoável que eu encontrei desde que saíra de Punta Arenas, um mês e meio antes.

Estava um pouco perdido em meio à “multidão” de pessoas que caminhava pelas ruas. Havia até mesmo semáforos, trânsito, sorveterias, bancos com caixas automáticos. Uma verdadeira cidade moderna.

Eu continuava sem concordar com a maneira com que o homem “evoluiu” e organizou a vida em sociedade. Eu parava em frente às vitrines e ficava pensando nisso. Havia uma loja que vendia infinitos tipos de presilhas para cabelos e outros acessórios. Uma outra vendia uma enorme variedade de tubos e tubinhos, que continham ”produtos de beleza” dentro deles.

Que distanciamento da natureza, passar o dia dentro de uma loja esperando que pessoas entrem para comprar alguma coisa totalmente artificial e essencialmente desnecessária.

Era irônica a minha situação, pois eu faço parte desta mesma sociedade à qual estou criticando. É inviável reverter a nossa evolução e renunciar aos “brinquedos” e utilidades que a tecnologia nos proporciona. Eu mesmo estava viajando com bicicleta, fogareiro, barraca e roupas produzidos com alta tecnologia, mas ainda assim eu não conseguia deixar de considerar toda essa parafernália que criamos como uma coisa vã, que não leva o Homem a nenhuma melhora, pelo contrário, serve para distraí-lo e até fazê-lo esquecer o porque de estar vivendo como vive.

Nossa sociedade está organizada de uma maneira que nos torna dependentes dos confortos inventados por nós mesmos, e estamos cercados por esses confortos de uma maneira tal que se torna difícil perceber o quanto de nossa liberdade sacrificamos para poder ter acesso a essas facilidades.

Momentaneamente eu era livre, podia ir, em qualquer direção, ou ficar. Podia viver sem presilhas de cabelo e sem roupas novas. E podia utilizar um espaço quase infinito. O meu limite era a estrada, mas ela era longa. A paisagem mudava sempre e eu podia enxergar longe. Tédio, nem pensar.

Acabei ficando mais dois dias em Coihaique pois junto com os confortos da civilização veio uma diarréia, a primeira e única da viagem. A diarréia foi adquirida comendo um delicioso prato de “comida caseira” na própria hospedaje aonde eu estava.

Acabei partindo antes de ter sarado completamente pois estava cansado de ficar naquela hospedaje decrépita. Além disto, todos os Israelenses haviam ido embora e eu ficara sozinho.

Saí da cidade ao meio dia pedalando no asfalto que cobre os primeiros quilômetros da estrada, e depois de meia hora arrebentou um raio na roda traseira. Por sorte não era do lado direito da roda e pude consertá-lo sem problemas, mas demorei 45 minutos para acabar o conserto pois tive que esvaziar e depois reencher o pneu, e a minha bomba de ar estava se revelando péssima companheira de viagem. Ela era bem pequena, de “dupla ação” e com design moderno, mas exigia uma força descomunal para encher o pneu, por isso eu tinha que parar várias vezes para descansar antes de conseguir enchê-lo direito.

Continuei pedalando, era só subida por 20 quilômetros, mas eu tentava não reclamar pois afinal eu estava na estrada de novo. Finalmente o terreno começou a ficar mais plano, e logo eu estava descendo com o vento assobiando nos meus ouvidos. Mas o assobio do vento foi interrompido por um ruído que àquela altura eu já aprendera a reconhecer, o barulho de outro raio estourando.

Parei a bike, revoltado, mas fingi para mim mesmo que aquela era a primeira vez que aquilo acontecia no dia. Troquei o raio mecanicamente, perdendo os mesmos 45 minutos, e continuei a pedalar até o fim do dia sem nenhum outro problema.

No dia seguinte continuei a descer e depois de algumas horas cheguei à Mañihuales aonde parei para um lanche rápido na beira de um rio.

Ao norte de Mañihuales a paisagem começou a se tornar ainda mais bonita e selvagem. Depois de algumas horas pedalando avistei ao longe uma pessoa caminhando pela estrada carregando uma mochila. Pensei que era mais um mochileiro que estava tentando arrumar carona e parei para conversar.

O mochileiro era belga, e falava espanhol muito bem. Paramos para almoçar à beira de um lindo lago, e ele me contou sobre a sua viagem. Ele estava viajando a pé com a esposa. Eles se orientavam com os mapas do I.G.M. (Instituto Geográfico Militar) e escolhiam o seu próprio caminho, na maioria das vezes andando pelo meio do mato através das florestas de Lenga, que são pouco densas e fáceis de percorrer.

Na região aonde estávamos a vegetação era muito mais densa que as florestas de Lenga e por isso ele estava caminhando na beira da estrada com uma certa frequência. A sua esposa estava em Santiago e se juntaria a ele em breve. Juntos eles já haviam caminhado mais de 5000 km, somando as viagens que fizeram ao Japão, Alaska, e à Patagônia.

A aventura de caminhar fazendo a sua própria trilha na Patagônia, apesar de ser bem radical e não convencional, pode ser realizada por pessoas que tenham experiência em caminhadas e façam uma pesquisa prévia adequada. A boa notícia é que como as florestas são quase todas “atravessáveis” sem trilhas, resta apenas determinar um caminho que seja percorrível a pé, ou seja, que não tenha inclinações demasiadamente acentuadas. Isso pode ser feito tranquilamente com os mapas do I.G.M., que são topográficos e com escala de 1/50.000 , que permite uma boa visualização do terreno.

Continuamos a conversar, e apenas por desencargo de consciência, lhe perguntei a respeito da data, pois estava se aproximando o aniversário do meu filho e eu precisaria planejar estar em uma cidade para poder lhe telefonar. O belga me disse que era 24 de
Março. Segundo os meus cálculos era apenas 21 de Março, mas se eu estivesse errado deveria telefonar no dia seguinte, pois o aniversário era dia 25.

Resumindo, depois de me despedir do belga eu segui pedalando, imaginando quem seria o “perdido no tempo”, eu ou ele. No fim da tarde apareceu um jipe que ia em direção à Villa Amengoal, que seria a próxima cidade, a uns 30km de distância. Eu perguntei para o motorista se em Villa Amengoal havia telefone, e ele respondeu que logicamente sim.

Não resistindo à tentação eu lhe pedi uma carona pois assim ligaria à noite e teria certeza de encontrar alguém em casa.

O motorista aceitou e seguimos viagem juntos, logo chegando. Somente então lembrei de perguntar a data ao motorista, e ele me disse que era dia 21 de Marco, exatamente como eu pensava!

Bom, azar, eu iria ligar antes mesmo pois assim não correria o risco de estar sem telefone na hora de telefonar. Entrei na “Villa”, que na minha opinião deveria ser classificada como “Pueblito”, pois tinha apenas 154 habitantes, segundo indicava uma placa na beira da estrada.

Entrei em um bar e perguntei se por ali havia telefone, e como eu suspeitava, a resposta foi não. Irônico como às vezes tudo pode dar errado. Eu ainda tinha três dias para chegar à próxima cidade e por isso não haveria problema algum. Comprei vários pacotes de biscoito de chocolate e algumas frutas para me consolar, e fui em direção ao rio mais próximo para passar a noite.

Na manhã seguinte voltei à cidade e comprei um pouco de pão antes de continuar. A estrada tinha muitas descidas e me diverti descendo o mais rápido que podia. Depois o terreno tornou a ser mais ou menos plano e pude curtir mais o visual. A vegetação se tornava cada vez mais densa e úmida, inclusive com várias espécies de samambaias e bambu, lembrando muito as matas do Brasil.

No final da tarde entrei em outro parque, o Parque Nacional Queullat, e topei com um homem caminhando pela estrada. Era Sergio, que trabalhava como guarda parque. Ele era jovem, com apenas 24 anos, e me convidou para dormir em sua casa, que ficava a apenas alguns quilômetros mais adiante.

Ótimo programa, tomei banho, lavei roupa e ficamos conversando sobre os nossos mundos. Sergio tinha virado guarda parque por acaso, para mudar de vida após terminar um relacionamento com uma mulher. Ele havia pensado em se tornar policial mas acabou se tronando guarda parque para não correr o risco de levar um tiro à toa. E ali estava ele sozinho no meio do mato, com muito tempo disponível e pouca coisa para fazer. Com uma moto para patrulhar o Parque e sem ter que dar satisfações à muitas pessoas sobre a sua vida.

Na manhã seguinte fiz uma limpeza e regulagem geral na bike, saindo para pedalar às 13:30. Os primeiros 5 km foram de subida mas em seguida iniciou se uma descida muito longa e íngreme, que me trouxe de volta ao nível do mar. Podia sentir a umidade ao respirar, e a temperatura também estava mais alta que o normal.

Depois de mais alguns quilômetros, cheguei ao Fiorde Queullat, banhado pelas águas do Oceano Pacifico. Foi uma bela visão, as montanhas desciam íngremes até a água, que estava calma como um espelho. Não se podia ver à grande distância pois o Fiorde era estreito e havia montanhas por todos os lados, mas aquelas águas eram realmente do Oceano Pacifico, o qual eu havia deixado em Puerto Natales, a 1200 km, e sete semanas atrás.

Parei próximo à água para bater umas fotos e apreciar melhor o visual, e tive o privilégio de ver três golfinhos bem escuros, quase pretos, nadando lado a lado. Era um lugar maravilhoso, o mar parecia estar escondido ali. Não havia ondas ou qualquer tipo de ruído, nem mesmo o vento estava soprando. Também não se via nenhum indício de presença humana.

Continuei a pedalar, parando muitas vezes para tentar guardar comigo para sempre a calma e força da paisagem. No fim da tarde cheguei ao camping na área do Ventisquero Colgante, ou Glaciar Pendurado.

Conversei com o guarda parque, que me fez um desconto no preço do camping, e armei a minha barraca. O Ventisquero Colgante é uma visão realmente impressionante e inusitada, um glaciar precariamente “pendurado” no topo de uma montanha, diretamente acima da floresta.

Frequentemente o gelo se rompe e cai, fazendo um grande ruído, que se assemelha a trovões, e pode ser ouvido a quilômetros de distância. Ao cair o gelo se assemelha a uma gigantesca cachoeira, despencando livre até atingir as águas do lago que existe a seus pés

É um espetáculo chocante, e para mim foi uma das visões mais impressionantes em toda a viagem. É uma pena que o acesso à base do glaciar seja complicado e a maioria dos turistas, assim com eu, acaba contemplando o espetáculo a distância.

Na manhã seguinte passei mais um tempo observando o glaciar enquanto esperava uma melhora no tempo. Na noite anterior havia chovido muito e continuava a chover pela manhã.

Por volta das 11:00 da manhã resolvi partir. Ainda garoava levemente mas o tempo prometia melhorar. E realmente acabou melhorando, mas a umidade no ar era uma coisa impressionante, havia nuvens pairando à uma altura muito baixa, e uma espécie de neblina contribuía para tornar o visual ainda mais surreal e reforçar a sensação de se estar em uma espécie de “mundo perdido”.

Esse dia foi um dos mais gostosos para se pedalar, a estrada estava em ótimas condições, absolutamente vazia, e eu seguia a grande velocidade, tendo ótimas vistas da floresta e do Fiorde cobertos pela neblina.

Parei na Vila de Puyuhuapi para um rápido lanche com iogurte e biscoitos e prossegui viagem por mais um tempo, parando para almoçar as margens de um lago com águas bem escuras, o Lago Riso Patron.

Logo após o lago, saí do parque nacional, e o visual se humanizou um pouco mais, com a presença de algumas fazendas. Mas tudo sempre em grande harmonia com a natureza mantendo uma aparência exótica e intocada.

No fim do dia, depois de ter pedalado 72 km, cheguei a La Junta aonde fui dormir em uma hospedaje e pude finalmente telefonar ao meu filho.

Na manhã seguinte amanheceu chovendo, e segundo o rádio iria chover por vários dias. Eu realmente havia tido muita sorte em pedalar a Carretera Austral sem problemas com a chuva até então, mas a minha sorte havia acabado e as chuvas, que estavam atrasadas, haviam chegado para ficar, trazendo o outono.

Me preparei para a novidade que seria pedalar com a chuva. Vesti minha capa de chuva amarela, e protegi as bolsas da bike com uma capa impermeável que tinha para a mochila de caminhadas.

No início tudo correu bem, a chuva não estava muito forte e a capa não deixava passar nada de água. O problema é que a capa, por ser tão impermeável, não deixava a transpiração evaporar, e eu acabava me molhando com o meu próprio suor. Depois de um certo tempo, até mesmo a minha bota estava totalmente molhada.

Eu não tinha frio, pois a temperatura não estava tão baixa e eu estava em movimento, me exercitando. O problema seria parar para almoçar ou dormir. Eu precisaria de um lugar protegido da chuva para parar, pois assim não sentiria frio e poderia colocar as roupas e a bota para secar.

A única opção seria pedir para dormir em fazendas, apesar de eu não ser muito fã da idéia de chegar pedindo abrigo para pessoas desconhecidas e depois partir cedo na manhã seguinte. Eu sabia que as pessoas ficavam felizes em receber viajantes e hospedá-los, mas mesmo assim eu ainda preferia não fazer isso.

A chuva começou a cair mais forte e eu comecei a considerar a hipótese de pegar uma carona até Chaiten. Chaiten é a última cidade na Carretera Austral e faltavam apenas 120 km para chegar lá. Eu hesitava em pegar carona pois a região era muito bonita e seria uma pena fazer o trajeto de carro.

Continuei argumentando comigo mesmo sobre pegar ou não pegar uma carona, pois havia pouquíssimo movimento na estrada e não poderia desperdiçar oportunidades caso passasse algum carro. Exatamente nesse momento, escutei o ruído de um carro que se aproximava pelas minhas costas.

Eu estava numa descida, indo muito rápido, e por isso o carro demoraria um pouco para me ultrapassar, eu teria que decidir naqueles segundos.

Acabei não resistindo à tentação e fiz sinal para que o carro parasse. Era uma caminhonete, e ela encostou um pouco mais à frente. Eu perguntei se eles poderiam me levar até Chaiten, e eles responderam que sim.

Em poucos minutos já havia desmontado a bike, posto roupas secas por baixo da capa de chuva, e me acomodado na caçamba da caminhonete.

Com o movimento do carro, a chuva deixou de me molhar, e eu via a paisagem passar por mim rapidamente. Era muito fácil viajar de carro, e eu não conseguia evitar me sentir um pouco inútil por estar acabando aquela etapa da viagem de uma maneira tão pouco louvável.

Mas afinal de contas, o que seria viajar de uma “maneira louvável”? Eu estava viajando. Podia estar de carro, mas ainda estava viajando. De bike eu tinha muito mais chances de me relacionar com o ambiente e as pessoas, mas eu nunca iria poder viver todas as experiências vivíveis, nem estar em todos os lugares possíveis.

Quando escolhemos ir em uma direção, deixamos de ir em várias outras, que também seriam válidas e interessantes. É impossível fazer todo o possível. E era inútil me recriminar por deixar de pedalar aquele pequeno trecho. Eu havia deixado de pedalar muitas estradas que haviam por ali, e nunca poderia pedalá-las todas.

Essa carona acabou sendo muito útil, pois o fato de eu estar mudando os meus planos, associado à velocidade do carro, fez meus pensamentos rolarem rápido, e comecei a reavaliar os meus planos de viagem futuros, mudando-os também .

Meu plano original era pegar um barco de Chaiten para a ilha de Chiloé, pedalar até o lado norte dela e aí pegar outro barco até Puerto Montt, de onde eu partiria para explorar outros parques que existem na área.

Mas eu estava com medo de encontrar muita chuva, pois afinal já era fim de Março e o tempo só tendia a piorar. Eu estava querendo mudar de planos radicalmente, e a chegada das chuvas foi a desculpa que eu precisava.

Meu novo plano abortava totalmente a Ilha de Chiloé, e incluía somente um parque nas imediações de Puerto Montt. Depois disto eu iria seguir de ônibus até Santiago, e lá pegaria outro ônibus em direção ao Deserto do Atacama, aonde eu voltaria a pedalar.

O Atacama sempre esteve nos meus planos, mas eu achava difícil conciliar em uma viagem de bike de apenas três meses, duas regiões tão diferentes e distantes uma da outra. Eu ainda tinha quase um mês de férias, e poderia dar uma boa olhada no deserto.

O tempo passou rápido enquanto eu fazia meus novos planos, e logo chegamos em Chaiten. Eu não me recriminava mais por terminar a Carretera de carro, e estava animado com os novos rumos que eu estava dando à viagem.

Chaiten é uma cidade agradável, de tamanho médio, mas que conserva um ar de cidade isolada em um lugar inóspito. O lugar é cercado de montanhas cobertas por densa vegetação e pelo Oceano Pacífico.

Acabei tendo que dormir em Chaiten pois só haveria barco para Puerto Montt na tarde seguinte. Na hora do embarque tive que me empenhar bastante para evitar pagar uma taxa extra por estar levando um “veículo”. Era absurdo, havia transportado a minha bike de avião sem pagar nada, e de ônibus pagando uma pequena taxa. A empresa de navegação queria cobrar dez dólares para carregá-la.

A solução me foi sugerida pela empregada do hotel aonde dormi, e foi uma idéia bem original e simples. Bastava pedir aos passageiros que estavam embarcando com caminhonete para que levassem a bike na caçamba.

Eu dei risada ante a simplicidade e originalidade da idéia, e fui até o porto conversar com os passageiros que estavam junto aos seus veículos. Eu não estava com muita sorte pois todas as caminhonetes estavam totalmente carregadas e também não havia muitos veículos.

Nos últimos instantes antes do embarque, apareceu um pequeno furgão, totalmente carregado, mas com um bagageiro vazio no teto. Fui conversar com o motorista. Ele trabalhava para alguma igreja, cujo nome não me recordo, e estava viajando pela Carretera divulgando-a. Ele foi muito simpático e concordou em levar a bike no bagageiro.

A cena foi um tanto cômica, ele me ajudou a desmontar a bike e a carregá-la, tudo isso bem na frente do barco, às vistas de toda a tripulação. Finalmente embarcamos, e não tive que pagar taxa alguma.

A viagem de barco foi bastante agradável, o mar estava tranquilo e a chuva acalmou um pouco durante a noite. Na manhã seguinte chegamos a Puerto Montt, e fui imediatamente à hospedaje onde havia me hospedado quando passara por ali. Foi bom rever a dona da hospedaje, uma mulher simpática, que ao saber dos meus planos de pedalar pela Patagônia me havia dito que eu morreria de frio e solidão.

Deixei a bike na hospedaje e peguei um ônibus em direção à cidade de Correntoso, de onde prossegui a pé em direção ao Parque Nacional Alerce Andino.

Caminhei pelo parque por dois dias antes de voltar a Puerto Montt. Foi uma experiência incrível, a floresta no parque era extremamente úmida, com uma vegetação muito densa. Os Alerces Andinos são as árvores mais impressionantes na floresta, alguns tem mais de 4000 anos de idade e 4 metros de diâmetro.

Encontrei também muitas Copihue, que é a flor nacional do Chile. Elas tem um tom de rosa muito bonito e a forma de sino, e são encontradas na beira das trilhas aparentando ser lanternas indicando o caminho a seguir.

O lugar é muito exótico e contrastava muito com tudo que eu havia visto na Patagônia até então. É incrível como o Chile possue paisagens tão variadas e interessantes.

Voltando a Puerto Montt, tratei de pegar o primeiro ônibus em direção à Santiago, mas antes comprei um mapa rodoviário do Chile, à venda em uma rede de postos de gasolina. Esse mapa foi todo o material que usei para preparar a minha ida ao Atacama. No caminho à Santiago eu defini que roteiro iria seguir.

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